26/01/2012
às 6:33Por que Lula tem de arrastar seu fotógrafo oficial para sessões de radioterapia? Ou: Que outro ex-presidente no mundo tem fotógrafo oficial? Ou ainda: O câncer fashion
É
claro que eu poderia me abster deste comentário porque há sempre
estúpidos incapazes de ler o que está escrito e dispostos a me acusar
por aquilo que não escrevi. Ocorre que esses tontos não são meus juízes.
Então escrevo. Vejam esta foto
Foi
feita por Ricardo Stuckert, do Instituto Lula. O Apedeuta faz
tratamento de radioterapia no hospital Sírio-Libanês, onde Reynaldo
Gianecchini também se trata. O ex-presidente decidiu visitar o ator. Até
aí, bem! Mas o que faz junto o seu fotógrafo oficial? Aliás, desconheço
outro político no mundo, já fora do poder, que tenha um “fotógrafo
oficial”!!! Isso é coisa daqueles bilionários das arábias…
Já
notaram que jamais se estranhou isso na imprensa? Os leitores muito
jovens — e os tenho aos montes, felizmente — talvez não se lembrem, mas
uma das críticas em que a imprensa se fartava era a tal “vaidade” de
FHC… A acusação era sempre ressentida, meio bucéfala, tentando
demonstrar que era uma ilusão ele se
achar superior aos demais políticos só porque era intelectual. Ele
jamais havia se declarado assim, mas e daí? Imaginem se o tucano
carregasse um fotógrafo pra cima e pra baixo… Ao contrário: FHC já
declarou que gosta é de privacidade.
Não
Lula! Com ele, até o câncer tem de ser um espetáculo e de
render flashes. VOCÊS JÁ SE DERAM CONTA DO ABSURDO QUE É CARREGAR
FOTÓGRAFO EM SESSÃO DE QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA??? Pra quê? Por quê?
A única resposta possível é esta: POLÍTICA! Luiz Inácio Apedeuta da
Silva usa o câncer para reforçar a mitologia. Se puder aparecer ao lado
de um ator querido por muitos, que também leva adiante uma batalha e
tanto, melhor!
Alguns
tolinhos da sociologia de fancaria vêm com aquela bobagem de que,
assim, ele ajuda a desmistificar a doença etc e tal. Uma ova! Ajudaria
caso se portasse como um homem comum — ainda que homem comum tratado no
Sírio-Libanês. Levando junto um aparato, vivendo vida de artista, ele
faz é o contrário. Não serve de exemplo, mas de exceção. Os demais
pacientes não podem fazer essa glamorização da doença.
Eu
detesto ter de escrever este texto, se querem saber. Acho que as
enfermidades têm de ser tratadas com decoro. Jamais permiti, e não
permitirei, neste blog, abordagens desrespeitosas com doentes — pode ser
até o Chávez. É claro que as moléstias não tornam bons e decentes
indivíduos maus e indecentes. Mas não é uma
categoria de pensamento e uma categoria política. Ademais, queridos,
não tem jeito — sou quem sou! —, acho que a compaixão é um bom
sentimento.
Por
isso mesmo eu me constranjo com a espetacularização a que Lula submete a
própria doença. Stuckert deveria começar a divulgar as fotos dos
encontros
políticos do chefe, já que ele está articulando as eleições de 2012. Se
é para acabar com o preconceito, que se mostre o petista cuidando das
relações de poder, sem essa abordagem fashion.
Trata-se de uma cara politização barata da doença.
PS - Pior sorte teve Mário Covas. Doente de câncer, tomou bandeiradas na cabeça dos petistas, até sangrar.
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