segunda-feira, 28 de novembro de 2011

"Deixei o Japão para tratar a aids no Brasil"


Foto: Amana Salles / Fotoarena Ampliar
Maurício deixou o Japão para tratar aids no Brasil. Atualmente, 710 estrangeiros estão em tratamento em hospitais nacionais
O terremoto e o tsunami que devastaram as terras japonesas, em março deste ano, não convenceram Maurício, 41 anos, a deixar o Japão.
Apesar da destruição, a vida do técnico em montagem permaneceu intacta, repleta de ânimo para trabalhar pela reconstrução do país. A ameaça só veio dois meses depois, trazida pela palavra “positivo” em um teste de aids.
Em apenas três dias como portador do vírus HIV, Maurício fez as malas, deixou para trás o emprego fixo, o visto permanente e a ótima colocação em uma fábrica de automóveis para buscar tratamento no Brasil, país que já não era sua casa há mais de duas décadas.
Leia a história: Mulher, avó e HIV positivo
“Nunca tinha ficado doente. Do nada, comecei a emagrecer e apareceram umas feridinhas na boca”, conta. “Fui ao hospital e a notícia de que tinha a doença, após um exame trivial de sangue, foi dada pelo médico de forma robótica.”
“Você tem aids”, disse o profissional de jaleco, pausadamente, quase sem mexer os lábios. “E ficou me olhando em silêncio depois.”
Maurício ficou perdido em um choro que durou duas noites. Mas, de certa forma, soube para onde ir. Elegeu o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, destino escolhido por, ao menos, 710 estrangeiros que atualmente recebem tratamento e acolhimento médico de graça contra o HIV, mostram dados do Programa Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde.
Vitrine
Ronaldo Hallal, coordenador do Departamento de Qualidade de Vida do Programa Nacional de Aids, pontua que o fato do atendimento aos soropositivos ser integral, gratuito e ainda fornecido por equipes multidisciplinares (médicos, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e enfermeiros) faz da área uma vitrine para o planeta.

Em países desenvolvidos como França e Estados Unidos, além de pagar pelo atendimento, o coquetel de remédios que permite uma vida praticamente normal ao portador do vírus é pago, em custos que superaram US$ 2 mil mensais.
“A resposta que o Brasil deu ao HIV, desde o início da epidemia nos anos 80, tornou-se emblemática no mundo”, avalia Hallal. “Não há uma interferência econômica por causa dos estrangeiros atendidos no País (eles representam 0,03% dos 200 mil em tratamento no Brasil), e o sistema universal não pode ter barreiras burocráticas. Não negamos acolhimento em hipótese nenhuma.”

Fernanda Aranda, iG São Paulo

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