Retrato de Baruch de Spinoza, aproximadamente de 1665.
DEUS SEGUNDO SPINOZA
“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára
de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau
em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O
sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor,
teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram
crer.
Pára
de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára
de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me
irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára
de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi
de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades,
de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a
algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu
sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos
meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que
tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece
qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas
para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única
coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de
alerta seja teu guia.
Esta
vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um
ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e
agora, e o único que precisas.
Eu
te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados
nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não
te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um
conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única
oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E
se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado
ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que
mais gostaste? O que aprendeste?
Pára
de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que
acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti
quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Me
aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te
sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de
me louvar.
Pára
de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram
sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que
este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.
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